RESENHA
LOPES. Amanda Cristina
Teagno. Educação Infantil e registro
de práticas. São Paulo: Cortez, 2009.
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Amanda Cristina Teagno Lopes é pedagoga, mestre em
educação pela faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE/USP). Atua
como professora de Educação Infantil na prefeitura de São Paulo e assessora o
Departamento de Normas Técnicas e Orientações Pedagógicas da Secretaria
Municipal de Guarulhos. Além do universo infantil, a autora ministra cursos e
oficinas voltadas ao processo de formação continuada de educadores.
O livro Educação infantil e registro de práticas faz
parte da Coleção Docência em Formação que tem por objetivo oferecer suporte
teórico aos docentes para que possam atuar ativamente na sociedade brasileira
contemporânea, considerando seu contexto histórico, social e cultural. Outro
aspecto da coleção é o investimento dos autores (as) na valorização do
professor enquanto agente principal de mudanças no sistema de ensino
brasileiro, e por isso, busca também, conhecer e resignificar a identidade
deste profissional, problematizando e analisando as situações da prática de
ensinar e a capacidade de tomada de decisão dos professores na realidade em que
atuam.
Assim, os livros desta coleção subsidiam a formação
inicial e continuada de professores de creches e pré-escolas, ensino
fundamental e médio, ensino superior, educação profissional, educação de jovens
e adultos baseando-se no investimento do desenvolvimento profissional e oferecendo
formação teórica, a fim de tornar a pesquisa componente essencial da/na
formação, valorizando a docência como atividade intelectual, critica e
reflexiva.
Lopes apresenta seu livro, fruto de sua dissertação
de mestrado apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo,
sob orientação do professor doutor José Cerchi Fusari. É uma pesquisa que
possui raízes históricas na vida da autora, uma vez que há essências de sua
prática como professora de Educação Infantil, onde iniciou suas reflexões
acerca da pratica de registros.
O livro é organizado em quatro partes:
Capítulo I, em que a autora realiza uma “roda de
conversa” com alguns autores, em torno de conceituar o termo registro,
considerando as diversas linguagens e criança como produtora de praticas.
Participaram desta discussão Madalena Freire
(1983-1996), Paulo Freire (1993), Cecília Warschauer (1993, 2001), Miguel Angel
Zabalza (1994) e Júlia Oliveira-Formosinho (2002), e claro, Amanda Cristina T.
Lopes.
Os autores refletem sobre os diversos tipos de
registro (diários, portfólios, imagens, planos de aulas, etc.) que se
constituem documentos favores na/para a prática pedagógica reflexiva, que
considere a observação, a leitura da realidade, ou seja, próprio ato de estudar
e registrar o que se vive. Para isso, segundo a autora, é preciso que os
docentes desmistifiquem a idéia/identidade de cuidadores de criança para
pesquisadores que incluam em suas vivências e estudos, teóricos e
pesquisadores.
Ainda no capitulo I, outros elementos também são
mencionados como fatores importantes para a construção de memória e história
por meio do registro, como o contexto e as condições de trabalho que
favorecerão ou não nestas práticas; a valorização da criança como produtora de
registros, construtora de cultura e história (onde o desenho é a principal
forma de linguagem); e a reflexão acerca dos textos que os docentes lêem e
constroem no decorrer de suas práticas.
No capitulo II, a autora recupera na história da
educação infantil de São Paulo e na história da educação no Brasil, registros
de práticas realizadas em épocas passadas, dando ênfase ao registro no contexto
da Educação Infantil e mais propriamente na pré-escola de escolas publicas.
A história da educação escolar em São Paulo teve
inicio em 1554, com a criação do Colégio dos Meninos de Jesus em São Paulo de
Piratininga. A autora percebeu que nesta época a educação apenas cumpria os
preceitos médico-higienistas e de jogos, ginástica e educação física, uma vez
que não se pensava no professor reflexivo, na complexidade da prática, e por
isso, não havia sentido a produção de registros com estas finalidades. Encontrou
apenas algumas fichas (prontas para preencher) de acompanhamento de
desenvolvimento físico, e, alguns relatos descritivos de atividades realizadas
com as crianças, essencialmente prescritivos, com um modelo a se seguido.
No Instituto do Distrito Federal (Rio de Janeiro- 1932 a 1937), o registro
apareceu como “[...] instrumento de disseminação de novo paradigma, elemento de
mudança e de formação de pensamentos”. (LOPES, 2009, p. 91).
Enfim, neste capitulo a autora nos situa em processos
históricos do contexto brasileiro que nos ajudam a resgatar e formular o
conceito de registro, memória e história do profissional que trabalha na
educação publica infantil.
No capitulo III, Lopes recupera a sua prática
enquanto professora de crianças, buscando em seus registros, desvendar o que querem
dizer e como contribuíram em seu desenvolvimento profissional e melhoria da sua
prática. Ela nos evidencia, aqui, que a produção de saberes acontece desde o
planejamento das atividades até o produto final das mesmas e que “por trás”
disso existem políticas publicas, produções teóricas, documentos legais, que
exercem importante papel no registro de práticas docente.
No capitulo IV faz sua considerações finais,
destacando o professor como autor de sua prática, a atividade pedagogia como
ação complexa e em processo de construção, as crianças como agentes ativos em
sua educação, o registro como memória e história, e a necessidade da formação
continuada para professores.
Não há duvida que este livro contribui de forma
positiva para a formação continuada de professores, pois aborda importantes
questões acerca da educação infantil, em que, a observação e o registro são
instrumentos essenciais ao processo de avaliação, aprendizagem e
desenvolvimento da criança, além de serem instrumentos de construção da memória
e história de uma determinada época e contexto educacional.
Bruna F. G. de Araujo
Professora da Rede Municipal de
Ensino de Campo Grande MS e pós-graduanda do Instituto Superior da Funlec-IESF,
em Educação Infantil e Suas Linguagens.
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